domingo, 23 de agosto de 2009

morreu “um dos imprescindíveis”


“Um amigo muito querido” com quem partilhou “esperanças”, recorda o encenador João Lourenço. “Um lutador e um resistente” para a actriz Irene Cruz, “um actor excepcional” para o encenador Joaquim Benite, “empenhado tanto na vida como nas pessoas”, recorda o actor Rui Mendes, “um dos imprescindíveis”, assinalou o Partido Comunista Português, evocando as palavras de Bertolt Brecht da peça de teatro “Mãe coragem e seus filhos”.

Morais e Castro, actor, advogado, militante e membro das listas do PCP, encenador, homem de palco, morreu ontem aos 69 anos, vítima de cancro, no Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, onde estava internado há um mês.

É da televisão que o grande público terá uma imagem mais vívida de José Armando Tavares de Morais e Castro, das séries e novelas da RTP e da TVI às Lições do Tonecas (1996/8), mas foi no teatro que se estreou, ainda no liceu, e que mais trabalhou ao longo de mais de 50 anos de carreira. Dirigente da Casa do Artista, onde residia nos meses que antecederam o seu internamento, casado com a actriz Linda Silva, Morais e Castro nasceu em Lisboa a 30 de Setembro de 1939. 

Estreou-se em palco com o Grupo Cénico do Centro 25 da Mocidade Portuguesa ainda no liceu. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa por insistência do pai, que “além de advogado, também tinha uma costela ligada ao teatro”, recordou Morais e Castro numa entrevista à Sociedade Portuguesa de Autores.

Considerava o Teatro Moderno de Lisboa a sua escola de teatro e dois anos após o seu final, uniu-se a Irene Cruz, João Lourenço e Rui Mendes para fundar o Grupo 4, que inaugurou o palco do Teatro Aberto, em Lisboa. “A câmara emprestou o direito de superfície para fazermos ali o teatro, pagávamos uma taxa”, contou, em Julho de 2002, Morais e Castro ao PÚBLICO, quando o seu antigo edifício foi demolido.

O encenador João Lourenço, director do Teatro Aberto, disse ao P2: “O Zé teve uma importância muito grande na minha vida. Nos anos 1960 e 70 tivemos esperanças, muitas esperanças, e trabalhámos para elas. E isso não se apaga”. A actriz Irene Cruz lamenta, em declarações à Lusa, a “grande perda para o teatro” que representa a morte de “um grande homem” com uma também “grande paixão” pelo teatro. 

Se desde os anos 1980 foi figura regular na televisão, apesar de nela se ter estreado já em 1958 com a adaptação da peça O Rei Veado, o teatro nunca o deixou. Em 2004, dirigido por Joaquim Benite, interpretou O Fazedor de Teatro, de Thomas Bernard, com a Companhia de Teatro de Almada. O papel deu-lhe a Menção Honrosa Crítica e o director da Companhia de Teatro de Almada, Joaquim Benite, lembra-o como um actor “excepcional, de primeiro plano” cuja morte é “mais uma grande perda para o teatro português”.

Rui Mendes faz a ponte com a actividade cívica e política de Morais e Castro, lembrando-o como “um cidadão muito consciente”. Além de levar Brecht, Samuel Beckett, Peter Weiss, Peter Handke, Boris Vian ou Dostoievski aos palcos, Morais e Castro militou no PCP desde jovem e teve, como indicou ontem o partido em comunicado, “altas responsabilidades de apoio à direcção do partido antes e depois da Revolução de Abril”. Foi sócio fundador do Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos e era membro da assembleia da Freguesia dos Anjos, em Lisboa, e estava inscrito como candidato nas listas da CDU às próximas autárquicas. O PCP assinala ainda “o seu optimismo jovial” e “confiança nos ideais que defendia”.

O corpo do actor sai do Palácio Galveias, em Lisboa, para funeral às 15h30 de domingo no cemitério do Alto de S. João.

[onte: Publico]

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